sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Fabricante apresenta tecnologia para polímero com propriedade de barreira

O Gruppo Mossi & Ghisolfi, fabricante de resinas de PET e fibras de poliéster, tem um novo rebento em sua família de plásticos com barreira. Trata-se do Polyprotect, material apresentado na 5ª Conferência Internacional de PET da Husky do Brasil.

O grupo M&G já havia entrado no segmento de polímeros com propriedades de barreira a gases em 2003, com o lançamento da resina ACTiTUF, direcionada à substituição de estruturas com multicamadas. A empresa continuou a desenvolver o conceito e em 2009 chegou à resina Polyprotect, que encerra uma tecnologia “revolucionária”, nas palavras de Cecile Bourland, diretora de desenvolvimento de Mercados e Produtos da M&G da Itália. A tecnologia, denominada BicoPET, permite a produção de um polímero que integra as barreiras ativa e passiva em cada um de seus pellets. A primeira está presente em uma camada exterior de PET aditivado com absorvedor de oxigênio, enquanto a segunda se origina em um núcleo de poliamida existente no interior de cada pellet. Essa constituição original permite que as duas barreiras coexistam em todas as porções da resina, acarretando uma série de vantagens, como a eliminação de etapas posteriores de processamento, como a laminação, necessária no caso de plásticos metalizados ou estruturas multicamadas. Embora seja utilizado um PET modificado, para facilitar a compatibilização com o náilon, a resina Polyprotect é processada exatamente como qualquer PET convencional, é reciclável e suas propriedades mecânicas praticamente não se alteram, em comparação ao poliéster comum.

O material está sendo produzido na Itália e nos Estados Unidos, por enquanto. Segundo Bourland, ele pode ser utilizado em aplicações do tipo hot fill, até temperaturas de 85ºC a 90ºC, desde que com o design apropriado. A diretora destaca que as propriedades de barreira são mantidas mesmo após a reciclagem, sob a condição de uma fração de até 20% de Polyprotect reciclado, na mistura com material virgem, pois acima desse patamar pode haver problemas com a cor. A pigmentação, aliás, parece ser um dos únicos itens que requer algum cuidado especial com a nova resina, pois alguns pigmentos podem ter como efeito a desativação da barreira ativa, o que torna necessária a realização de testes quanto à cor. Mesmo assim, Bourland ressaltou que o aspecto visual da resina também é muito próximo ao do PET convencional, com uma transparência muito semelhante.

Crescimento – A 5ª Conferência também abrigou, entre outras, a exposição de Graham Wallis, diretor da Datamark Brasil, uma empresa de consultoria dedicada aos estudos da indústria brasileira de bens de consumo e embalagens. Wallis apresentou um panorama do mercado de PET do Brasil, em que ficou evidente o avanço da resina nos últimos dez anos.

O mercado de embalagens segue rigorosamente o PIB, e seu volume dobrou nos últimos dez anos, em tonelagem, mas cresceu quase cinco vezes em valor, uma situação privilegiada de crescimento, para o diretor da Datamark Brasil. Dentre os materiais utilizados em embalagens, o papelão aparece com a maior fatia, mas os plásticos continuam invadindo o espaço de outros materiais.

O PET, por sua vez, tem importante contribuição no mercado de embalagens rígidas, no qual fica atrás apenas das latas de alumínio, porém com potencial para continuar crescendo, particularmente na substituição de outros materiais plásticos.

Wallis apresentou uma pesquisa que ele denomina share of stomach, na qual são determinadas as participações de todos os líquidos consumidos no país. Esse estudo revelou que, no Brasil, de todos os líquidos consumidos, a água de torneira contribui com uma fatia de 45%, em comparação a apenas 9%, nos Estados Unidos. Na visão de Wallis, essa é uma boa notícia, pois denota que há espaço para o crescimento do mercado de água mineral. “É uma missão da indústria fazer essa substituição acontecer. Outra boa notícia é que a fatia do leite no Brasil já é de 15%, enquanto no país norte-americano o leite contribui com apenas 10%. Nos refrigerantes, no entanto, é pouco provável que os brasileiros cheguem a consumir o mesmo que os estadunidenses, que dedicam 26% de seu consumo a esse tipo de bebida. Mesmo assim, de

1998 a 2008, a consumo de refrigerantes passou de 11 bilhões de litros para 15 bilhões de litros. O PET, curiosamente, perdeu um pouco de participação nessa ampliação, pois o vidro conseguiu retomar um pouco do seu espaço.


O diretor da Datamark relembrou a “guerra fria” entre Coca-Cola, Ambev, Schincariol e as Tubaínas. Estas, graças ao pouco rigor em termos de impostos e outros tributos, trouxeram uma concorrência desleal ao mercado, mas ainda assim a Coca-Cola conseguiu reverter a situação; a Ambev perdeu um pouco de sua fatia, e a Schincariol vai crescendo aos poucos. Nesse panorama, o volume de refrigerantes embalados em PET teve um crescimento de 31% em dez anos – um enorme sucesso, que reflete o trabalho da indústria da resina no país.

Em geral, a quantidade de garrafas de PET dobrou no Brasil de 1998 a 2008, o que acaba tendo impacto também nos números da reciclagem do poliéster. Embora o alumínio ainda seja o campeão em reutilização no país, o PET se mantém firme no segundo lugar. Os refrigerantes continuam sendo o principal mercado da resina, com 51% do total. A segunda posição está ocupada pelo óleo comestível, outro caso de grande sucesso, uma vez que, para a infelicidade dos produtores de folha de flandres, as latas feitas com esse material foram praticamente substituídas em 100% pelo plástico. Movimento parecido também ocorreu no segmento de água mineral, apontado como mais um exemplo de sucesso para o PET. Wallis chamou a atenção da audiência para o mercado de água de coco. Trata-se de um segmento que começa a ser explorado por empresas multinacionais, após manter-se por um bom tempo nas mãos de produtores locais. Embora esse nicho responda por volumes menores, se comparado a refrigerantes e água mineral, ele possui volumes potencialmente interessantes.

Considerando-se todos os segmentos em que o PET participa, de 1998 a 2008, houve um crescimento de 80%. Mas a dúvida que ainda paira no Brasil é a chance de a cerveja ser envasada com o poliéster, uma antiga aposta da indústria que ainda não se concretizou. Wallis decidiu exercer seus poderes de previsão e opinou que mesmo no caso de não vir a acontecer uma substituição maciça do vidro e das latas, a parte do consumo ligada a atividades exteriores apresenta bom potencial para a penetração da resina.
Márcio Azevedo

Texto reproduzido da Revista Plástico Moderno
Edição nº 424 - Fevereiro de 2010

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